mar

Posted: domingo, 6 de outubro de 2013 by André Luiz Foganholi in Tag: , , , , ,
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o mar é um cara justo.
um cara justo ele é.
você pode crer que nessa justiça exacerbada,
não possa existir um limite mas até o mar tem um limite.
um limite ele tem, sim.
na verdade, ele te dá várias chances, é paciente.
ele te abraça, te beija, te morde,
daí te dá um susto, finge que te leva.
ele te dá uma, duas, três chances,
como eu disse, o mar é paciente.
de repente, ele te leva. ele cobra com juros a tua rebeldia.
de repente, ele te lembra que ele é o mar.
e que com o mar não se brinca.

Morrerei

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Morrerei de um câncer na coluna vertebral
Será numa noite horrível
Clara, quente, perfumada, sensual
Morrerei de um apodrecimento
De certas células pouco conhecidas
Morrerei de uma perna arrancada
Por um rato gigante surgido de um buraco gigante
Morrerei de cem cortes
O céu terá desabado sobre mim
Estilhaçando-se como um vidro espesso
Morrerei de uma explosão de voz
Perfurando minhas orelhas
Morrerei de feridas silenciosas
Infligidas às duas da madrugada
Por assassinos indecisos e calvos
Morrerei sem perceber
Que morro, morrerei
Sepultado sob as ruínas secas
De mil metros de algodão tombado
Morrerei afogado em óleo de cárter
Espezinhado por imbecis indiferentes
E, logo a seguir, por imbecis diferentes
Morrerei nu, ou vestido com tecido vermelho
Ou costurado num saco com lâminas de barbear
Morrerei, quem sabe, sem me importar
Com o esmalte nos dedos do pé
E com as mãos cheias de lágrimas
E com as mãos cheias de lágrimas
Morrerei quando descolarem
Minhas pálpebras sob um sol raivoso
Quando me disserem lentamente
Maldades ao ouvido
Morrerei de ver torturarem crianças
E homens pasmos e pálidos
Morrerei roído vivo
Por vermes, morrerei com as
Mãos amarradas sob uma cascata
Morrerei queimado num incêndio triste
Morrerei um pouco, muito,
Sem paixão, mas com interesse
E quando tudo tiver acabado
Morrerei.

Boris Vian